De cara com a morte, entendi que precisava deixar um legado e usar meu conhecimento sobre negócios para ajudar outras pessoas

Muitos me chamam de Paulinha, apesar do meu 1,81 metro de altura. Sou natural de Santos e tenho orgulho do lugar onde nasci — berço da minha família –, que abriga o grande porto, o maior jardim contínuo à beira-mar do mundo, com 5 335 metros de extensão. Digo que sou gigante, do tamanho de onde nasci.

Cresci em uma família ligada ao mar, já que meu pai e avô eram práticos de navio. Uma profissão linda, que não aceitava mulheres até pouco tempo atrás.

Eu, no entanto, desde criança sempre tive interesse pelo mundo dos negócios e do varejo. Vendi diversas coisas, como o famoso geladinho, e até abri uma lanchonete no salão de festas do prédio onde morava

Sempre buscava novas ideias e oportunidades para empreender, mas como não tinha referência do que era ter um negócio, vivia numa busca constante por algo que não sabia o que era, mas que pulsava dentro do meu peito.

Eu sentia como se vivesse em um labirinto escuro, onde buscava a luz para sair dele e nunca encontrava. Essa sensação me fazia ter medo de me perder de mim mesma constantemente. 

 

MEU PRIMEIRO EMPREENDIMENTO FOI UM NEGÓCIO DE PROPAGANDA NAS PORTAS DOS BANHEIROS DE UM BAR

Depois de prestar vestibular para cinco cursos diferentes, tive a minha primeira ideia disruptiva durante o terceiro ano da faculdade de Publicidade.

Resolvi empreender usando as portas dos banheiros de um bar para vender publicidade. Assim nasceu a WC DOOR, minha primeira empresa.

Era inovadora, diferente, eu era dona do meu negócio, tinha horários flexíveis, mas não consegui alcançar minha estabilidade e vivi meu primeiro fracasso. Quebrei

Depois disso, iniciei um MBA em Marketing na ESPM, onde tive a oportunidade de trabalhar para os outros pela primeira vez.

Foi interessante, mas odiei ter chefe, horário e dar satisfações. Em seguida, entrei na consultoria da Fundação Getúlio Vargas, onde gostei mais do modelo.

Afinal, eu era jovem, com apenas 26 anos, e todos me respeitavam quando falava que trabalhava lá — além de ter sido um trampolim para assumir a área de inteligência de mercado de uma grande instituição financeira do Brasil.

Depois de um tempo, decidi me afastar do trabalho seguro no banco e me juntei à transportadora dos meus irmãos para ajudá-los a enfrentar uma crise econômica

Embora tenha ajudado a salvar a empresa e vendido a mesma por um capital que formou o meu primeiro “pé de meia”, ainda sentia que não tinha alcançado todo o meu potencial neste universo.

 

ME REALIZEI (NÃO POR MUITO TEMPO) EMPREENDENDO COM FRANQUIAS DE UMA REDE DE DEPILAÇÃO A LASER

Buscando algum negócio que tivesse mais conexão com a minha essência, investi em uma franquia de estética, a Giolaser, e me tornei franqueada master, pois fui a primeira franqueada a acreditar na marca.

Nessa empreitada, construí protocolos, processos, preços, negociação com fornecedores e treinei novos franqueados, tornando a clínica uma referência na rede e no mercado.

Obtive excelentes resultados. O faturamento máximo esperado da rede após três anos era de 65 mil reais, e no primeiro mês já havia feito 50 mil, já no terceiro ultrapassamos a meta inicial. Em um ano, já havíamos cruzado a linha dos 100 mil reais

Durante os treinamentos que aplicava na franquia, percebi que aquilo me alegrava mais do que ter o negócio em si. E mesmo sendo referência, respeitada, fazendo minha agenda e faturando bem, percebi que meu verdadeiro propósito era ajudar outros empreendedores a encontrarem seus caminhos e realizarem seus sonhos.

Resolvi, então, vender as minhas clínicas para seguir este objetivo, mesmo sem ainda saber ao certo como fazer isso. Senti muito medo, claro, mas o medo nunca me paralisou. Ele até tenta às vezes, mas aí me lembro que a coragem não é não ter medo, mas sim agir apesar dele.

 

COMPLICAÇÕES DECORRENTES DE UMA CIRURGIA ESTÉTICA ME COLOCARAM ENTRE A VIDA E A MORTE

Onze dias depois de vender a Giolaser, em maio de 2019, me vi deitada em uma mesa de cirurgia para realizar o sonho de fazer alguns “ajustes estéticos”.

Tive diversas complicações que quase me levaram a óbito, com embolia pulmonar, anemia profunda e infecção hospitalar. Fiquei mais oito longos e intermináveis dias no hospital, entre a vida e a morte

Os próximos 30 dias, já em casa, foram os piores e os mais desafiadores, pois tive que alugar uma cama hospitalar elétrica e colocá-la na minha sala, já que não podia realizar nenhum tipo de esforço nos músculos abdominais.

Para ir ao banheiro, que ficava a apenas 4 metros de distância em linha reta, eu precisava me sentar e descansar pelo caminho, já que meu problema pulmonar não me permitia respirar adequadamente. 

Essa rotina durou quase 40 dias, e todas as noites uma pergunta martelava em minha mente: “Se eu não acordar amanhã, o que fiz nesta vida?”.

Nestes dias, realmente morri e nasceu uma nova Paula, mais decidida a fazer diferença no mundo, a gerar impacto na vida das pessoas, a criar um legado

Ao fechar os olhos todas as noites, morrer não me assustava, mas sim o que deixei de fazer em vida, que era o que realmente importava.

Sai desse quadro decidida a dedicar minha vida ao próximo, aprendi a ouvir meu coração e intuição e respeitar meus desejos.

 

MINHA APOSTA: MENTORIA ONLINE E GRATUITA PARA AJUDAR MICROEMPREENDEDORES A TEREM SUCESSO

Fiquei quatro meses em um sabático, e logo veio a pandemia. Vi inúmeras empresas quebrando por falta de caixa e gestão. Foi quando comecei a escrever um e-book, que veio a se tornar um livro chamado O Código do Empreendedor.

Uma situação que me marcou muito foi quando, conversando com o João, motorista que atende eventualmente a minha família, ele falou sobre pegar um ponto comercial numa galeria em São Vicente, para vender as roupas que sua esposa costurava.

Então conversei com ele sobre a necessidade de reduzir o custo fixo e focar no mercado online. Ele não me ouviu… Oito meses depois, estava encerrando a operação.

Vendo essa situação, de uma pessoa que pegou todas as suas economias para investir em um sonho, decidi ajudar mais pessoas como ele, que desejavam empreender, por meio de lives semanais no Instagram.

Carinhosamente apelidei esse quadro de lives de “Sócia por 1 dia”. Os microempreendedores que já me acompanhavam se inscreviam para receber essa mentoria ao vivo e gratuita.

Não precisei de muito tempo para perceber que era aquilo que eu queria fazer pelo resto da minha vida.

Então, sem pretensão de monetização, compreendi que esse era o legado que deveria deixar no mundo: conhecimento que pudesse mudar a realidade de microempreendedores para que crescessem e vivessem de forma mais digna

Percebi que existiam diversas informações sobre como empreender, mas que eram empregadas de forma errada. Quando eu organizava a ordem lógica de como construir os dados da empresa na cabeça do empreendedor, tudo mudava.

 

ELABOREI UM CURSO PARA ORGANIZAR MINHA METODOLOGIA, CRIANDO UM NEGÓCIO QUE PUDESSE IMPACTAR MAIS PESSOAS

Nesse momento pensei: como posso escalar meu conhecimento e impactar milhares de pessoas? Foi aí que me lembrei do grande pai do Marketing, Philip Kotler, que havia estudado no meu MBA de Marketing, e extrapolei os famosos 4 P’s criados por ele para os 12 Ps do empreendedorismo. 

E foi assim, montando uma apostila do passo a passo de como construir uma micro ou pequena empresa estruturada, que criei o Método P.

Para vender esse curso, fundei a minha empresa, a WorkLover, com o objetivo de que as pessoas que precisassem empreender por necessidade encarassem isso como uma oportunidade de finalmente fazerem aquilo que amam — e não como um peso associado ao fracasso e à falta de emprego 

Primeiro, comecei listando todos os aspectos que um empreendedor precisa considerar antes mesmo de iniciar sua empresa. Em seguida, construí uma apostila que forneceria todas as respostas necessárias para criar um plano de negócios sólido e escalável.

Esta apostila se tornou o cerne do que viria a ser conhecido como o Método P. Tive que criar a estrutura das aulas, combinando teoria básica com orientações sobre como preencher cada parte da apostila.

Como não possuía conhecimento pedagógico, contei com a ajuda de um designer instrucional para transformar meu conhecimento em conteúdo de qualidade para os alunos.

 

NEM TUDO CORREU BEM. TIVE DIFICULDADES PARA VENDER O CURSO E PERDI ALGUMAS GRAVAÇÕES POR CONTA DE UMA TEMPESTADE

Minhas primeiras gravações em casa não atenderam aos padrões de excelência que eu buscava. Depois de algumas tentativas frustradas, finalmente encontrei um amigo proprietário de uma produtora em Salvador, que concordou em participar do projeto a um custo mais acessível.

Três semanas após a gravação, recebi uma ligação de que uma tempestade havia atingido a cidade, e devido a um raio na produtora, eles haviam perdido algumas aulas gravadas.

Nesse momento, me vi questionando se isso era um sinal para desistir. No entanto, lembrei dos dias em que estive acamada e da promessa que fiz a mim mesma de dedicar minha vida ao próximo.

Quinze dias depois, o Método P estava finalmente pronto, gravado e as apostilas também estavam prontas, desenhadas por uma designer.

Ao tentar vender a metodologia pela internet, enfrentei dificuldades, pois o público-alvo que eu queria atingir não podia pagar

Como resultado, continuei aplicando o Método P gratuitamente, tanto presencial quanto remotamente

 

SEI QUE ESTOU NO CAMINHO CERTO AO VER MINHA METODOLOGIA TRANSFORMANDO A REALIDADE DE MULHERES NA FAVELA

Após acompanhar várias empresas por um ano, como o caso da Bruna, proprietária de uma clínica de beleza, vi que estava no caminho certo. Ela começou o método faturando 6 mil reais por mês e, após quatro meses, multiplicou seu faturamento em sete vezes.

Percebi que aquelas que adotaram a metodologia não apenas sobreviviam, mas, na maioria das vezes, cresciam. Apenas 6,78% delas fecharam com menos de um ano de existência.

Finalmente, em março de 2023, conseguimos implementar o primeiro projeto em escala junto ao G10 Bank, do G10 Favelas, em Paraisópolis (São Paulo), dando mentoria a mulheres em situação de risco e vulnerabilidade social

Acredito que a educação é a base de uma nação, e empreender não é diferente.

E assim, aos poucos, avancei em direção ao cumprimento da promessa que fiz a mim mesma e ao meu compromisso de ajudar os microempreendedores a crescer e prosperar.

 

Paula Esteves é CEO e fundadora da WorkLover, idealizadora do Método P® e autora do livro O Código do Empreendedor.  Com MBA em Marketing, soma experiência em empresas como FGV, Itaú Personnalité e Kroll. Atua como mentora e educadora na área de empreendedorismo para pequenos e micro negócios.

Fonte: https://www.projetodraft.com/de-cara-com-a-morte-entendi-que-precisava-deixar-um-legado-e-usar-meu-conhecimento-sobre-negocios-para-ajudar-outras-pessoas/

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